sexta-feira, 9 de março de 2007

MAIS UM SUSTO DE UMA ALUNA

Quando há uns dias atrás uma aluna me veio pedir um esclarecimento sobre a duração e o número de dias previsível para o aparecimento do seu período menstrual, percebi logo o seu medo e a sua preocupação.

Juntamente com as duas amigas que a acompanhavam, chegámos rapidamente à conclusão que as contas estavam bem feitas.

Ela estava com uns dias de atraso.

O que fazer???

Como era possível que "ela", depois de tantas horas de aula e estudo, de testes e trabalhos positivos, não tivesse entendido a minha mensagem?

Como foi possível que eu não tivesse conseguido transmitir a urgência e a importância da minha mensagem?

Eu sei que não somos heróis!!

Mas aqui, deveriamos ser super-heróis!!!!

TODOS NÓS!!!!!!

Depois de estabelecermos uma estratégia em que tentei encontrar soluções e não dar sermões, ocorreu-me dizer-lhe que uma caixa de preservativos sempre é mais barata que um teste de gravidez ou que a pílula do dia seguinte. E com a vantagem de a proteger contra doenças sexualmente transmissíveis.

A resposta foi um silêncio contrafeito de quem dá razão e não sabe o que dizer.

Depois de uma semana, para mim de grande preocupação, mas para ela de um medo imenso, apesar de apadrinhada e acarinhada pelos seus colegas, "ela" andava, ou melhor, rastejava o temor e a visão da sua vida desviada e modificada para sempre.

Mas hoje ela ganhou a vida e a alegria de novo nos seus olhos.
O período tinha finalmente aparecido.

Nem foi preciso perguntar se o susto tinha sido o suficiente.

Passadas umas horas, tive a oportunidade de ver outra aluna, agora com bons resultados e muito trabalhadora, empenhada e interessada. Agora, já com 15 anos, tem a sua filha com dois.

Vi também outra aluna já grávida de 5 meses.

A que engravidou mais recentemente não a vi hoje.

Mas vi outra que regressou agora à escola e que a semana passada veio mostrar a sua filha que já anda e tudo.

E também vi o irmão daquela minha aluna que me manda sempre beijinhos e que fez questão de me vir mostrar a sua menina há dois anos atrás.

E eu desejava não ter tantas alunas assim!

E eu queria não ter tantas alunas assim!

E eu queria que a Educação Sexual fosse uma realidade efectiva e obrigatória nas Escolas!

E eu queria que o futuro dos nossos filhos e filhas não fosse determinado por dogmas religiosos e conservadorismos morais!

E eu queria que fosse mais fácil obter um preservativo do que uma dose de haxixe!

E eu queria tanto!
Nós queriamos tanto!

Mas parece que cada vez há menos pessoas a ouvirem!

10 comentários:

filipelamas disse...

Como professor, identifico-me com muitas das temáticas aqui abordadas! Parabéns, colega!

Pedro_Nunes_no_Mundo disse...

Caro Geo, sabes, quando nestes temas vem à baila o dogma religioso fico sempre com urticária.

Percebo no geral as tuas palavras e não posso estar mais de acordo com elas.

Mas desconfio muito que o desleixo familiar que em parte grassa na escola que bem conhecemos tenha a ver com dogmas religiosos. Porque é mesmo em casa que as educações começam. Todas.

Como desconfio muito que as pressões sociais que essas miúdas que conheço bem sofrem para uma sexualidade precoce, punhamos as coisas assim, decorram do dogmatismo religioso.

Como desconfio que se a classe política dominante ao mesmo tempo carpe as gravidezes juvenis e não tem t*m*t*s para implementar uma educação sexual se a acha incontornável isso não se deve a dogmas de religião, que muito político que a gente conhece até faz garbo de não ter.

Como desconfio que havendo professores que não encaram como tu, de frente, as gravidezes adolescentes solidarizando-se honestamente com as miúdas, porque no fundo as consideram umas promíscuas ou parte de uma sub-classe social, isso nada tem a ver com dogmatismos religiosos, mas com deficiências de carácter.

Percebes?

Chega a uma altura em que se calhar é preciso mudar o disco.
Mudar de alvo, se se acha que se está a acertar e que não se está a ter resultados.
Talvez seja por outro lado.

E a minha proposta é que é mesmo.

Porque tens razão: parece que cada vez andamos mais a falar sozinhos.

RetalhosNaVidaDeUmProf disse...

Caro Pedro:

Porque razão pensas que existe tanta dificuldade em implementar uma verdadeira Educação Sexual nas Escolas?

Porque razão pensas que existe tanta oposição à distribuição gratuita de preservativos nas Escolas?

O objectivo do meu post não é atacar ninguém em particular, mas já reparaste na religiosidade das pessoas que intervêm e se manifestam contra?

E o problema, como dizes e muito bem, começa em casa. E em quantas dessas casas a pressão da sociedade não se faz sentir? Não encontras nenhuma!

Assim, se numa missa qualquer, de uma igreja qualquer, te dizem que o preservativo é pecado como irás tu agir?

Falas da classe política DOMINANTE?????????

Não são esses que pertencem aos poderosos grupos religiosos da Maçonaria e da Opus Dei????

Ou seja:

Os pais em casa;

Os políticos em causa;

Os padres em acção;

Não achas coincidência a mais???

Desculpa lá que te diga:

Tentar dizer que a religião não tem nada a ver com a gravidez na adolescência, é assim como dizer que a Terra não se move!

Ou será que não?????


Estás enganado em mais uma coisa:

Não é por

"Mudar de alvo, se se acha que se está a acertar e que não se está a ter resultados".

É que o alvo pode ser tão poderoso que podem ser necessários séculos para se obterem resultados.

Foi assim com a Terra deixar de ser o centro do Universo;

Será assim com a utilização dos meios contraceptivos!!!

Pedro_Nunes_no_Mundo disse...
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Pedro_Nunes_no_Mundo disse...
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Pedro_Nunes_no_Mundo disse...

Tirando a parte da distribuição de preservativos nas escolas, de que não tinhas ainda falado e que dá um post só para ela, tentei responder em detalhe ao teu repto.
Com que mais uma vez repito que concordo na base: gravidez adolescente, um problema sem solução porque não se quer dar-lha.

Só que enquanto o teu post apontava para um alvo que continuo a achar muito kitsch, fácil de acertar mas totalmente infértil, eu continuo a apontar noutro sentido.
Por uma simples razão: não se pode ir a todos os alvos relevantes, sejamos claros.
Sejamos então selectivos.

Eu proponho que o ataque seja social.
Não um social que pode ser tudo e não ser nada, mas um social de que por natureza faço e fazes parte. Um social colectivo. Político - na origem da palavra.

Família? Escola? Cidadãos? Denominador comum: a política. Que integram e que os integra e os rege directamente.
Política.
Não presenças simbólicas diferidas nem representações abstractas plasmadas aqui e ali, de cariz místico.

A família tem responsabilidades e culpas que deve assumir sem metafísicas. Sem paternalismo nem diversões.
Adultos que ajam socialmente como adultos, como lhes compete.

Responsabilidades da escola, também. E de quem lá trabalha.
Como nos portamos nós em grupo? O que fazemos? O que exigimos? Como nos rebelamos perante os que não querem ouvir? Como impomos aos autistas a autoridade da experiência diária? Impomo-la nós? Estamos apostados sequer em fazê-lo?

Os tais políticos: o que exigimos deles? Maçons ou da Obra, como não lhes chegamos é esquecê-los?
Compete-lhes a eles resolver, é a sua obrigação, o seu dever legal e moral. E raios os partam se não o fazem!

Por isso, o que parece mais sensato? Apertar objectivamente quem está ao nosso lado, acima, abaixo, para agir no concreto, no dia-a-dia, como a ética manda, ou metermo-nos em cruzadas pelo derrube de uma coisa abstracta que há dentro da cabeça de pessoas ou que tem sede lá para os lados de Roma?

Esteve-se à espera disso para a alteração da lei do aborto? De acabar com influências? De acabar com dogmas? Não venceu aliás a alteração por ter sido posto de lado o despique questiúnculo do mais religião ou menos religião?
Não deu para ir directo às consciências das pessoas sem enrolar discursos?
(Apoiemos ou não os resultados obtidos!)

Militância anti-clerical? Parece-me chão que deu uvas. Hoje o que é preciso é falar menos e fazer mais. Já!
Porque: o que é que a anticlericalidade dá hoje espremida na mão para além de ressentimentos e queixume?
O que é que dá em acção directa, concreta, prática? …Social?
Nada.
E irrita-me o choque da urgência de agir com o encher balões retórico em ciclo vicioso.

As dificuldades de que falas existem. Muitas, graves, galopantes.
E o nosso objectivo é o mesmo: manter na borda do prato as influências religiosas quando se discutem questões de saúde e sociedade.

Só proponho é ir mais longe. Deixar sossegada a "religiosidade das pessoas que intervêm e se manifestam". Têm o direito pleno a fazê-lo. A viver, a influenciar, a controlar o que conseguirem.

É irreal ambicionar em décadas ou gerações anular a história e a influência culturais de uma religião de séculos no terreno. Não é surpresa nenhuma.
E isso não pode cegar o bom-senso, mesmo de quem a abomine. Não é racional.

Há que mexer e é já!
Se a igreja quiser vir, que venha. Se não quiser, está no direito de não vir.
E está no direito de catequizar quem puder. E os catequizados de não aderirem e de catequizar mais ainda.
Somos uma democracia ou não, chiça?

Depois estamos nós.
Os que pelo menos encaram o problema como uma coisa que lhes diz respeito. Exigentes com a responsabilidade de cada um, solidários com quem passa os problemas e com abertura para (mais ou menos) agir.

Sou humano e apenas quero um mínimo de justiça e o mínimo retorno da minha luta.

Pedro_Nunes_no_Mundo disse...

Esta coisa é mesmo hipersensível.

Consegue pôr a gaguejar uma pessoa que escreve um lençol destes!

RetalhosNaVidaDeUmProf disse...

Estou quase de acordo com quase tudo do que dizes.

Mas, ao contrário de ti, penso que as pessoas e as instituições que tenham um impacto bem superior ao teu e ao meu na Sociedade, têm uma responsabilidade acrescida. Precisamente a do seu grande impacto. A sua atitude tem que ser exemplar pois dela advirão comportamentos dos cidadãos que a consideram digna em ser seguida e respeitada.

Um exemplo: O nosso comportamento e a nossa atitude enquanto professores induz comportamentos aos nossos alunos.

Agora imagina a homilia de domingo na RTP. Quantos atinge???

E agora imagina que eu sou o padre que a administra. Claro que preocupado como estou com a gravidez na adolescência e com as DSTs, como é o caso do S.I.D.A., vou fazer propaganda à utilização do preservativo. E assim contribuiria para impedir algumas infecções - ALGUMAS MORTES.

MAS, a Igreja e os seus agentes promove o contrário sendo assim responsável por induzir comportamentos que conduzem à falta de cuidado e À MORTE E AO SOFRIMENTO.

E A DEMOCRACIA NÃO É PERMITIR QUE SE FAÇA A PROPAGANDA DA MORTE, POIS NÃO??????


PORTANTO, a Igreja não tem o direito de catequizar quem queira, quando esse catecismo é o de conduzir ao sofrimento.

Os fundamentalistas islâmicos também não.

E todos os outros cujo comportamento e CATEQUISMO conduzem à morte e ao sofrimento,
TAMBÉM NÃO TÊM O DIREITO!!!!


NÃO é a religião das pessoas que está em causa ou que eu ponho em causa.

O que eu coloco em causa é o papel dos padres, padrecos e papas que podiam marcar a diferença e contribuir para o bem da humanidade e o não fazem.

BEM PELO CONTRÁRIO!!!!

Jaime A. disse...

«E eu queria que fosse mais fácil obter um preservativo do que uma dose de haxixe!»
É o cinismo desta coisa onde vivemos e a que nos atrevemos de chamar "sociedade" (às vezes dá-me vontade de a chamar por um termo castelhano que tem um som semelhante, mas que nada tem a ver: "suciedad". Saberás traduzir?).
Temos de deixar de olhar para os de cima, arregaçar as mangas e fazer o trabalho. E mais nada!
Esperar pelos políticos... ora!
Um grande abraço pelo texto
"à flor da pele" e ao Pedro Nunes pela análise tão concreta.

Pedro_Nunes_no_Mundo disse...

Está percebida a partilha da preocupação e da revolta. Aliás ainda bem. É o fundamental.

Está percebida a rejeição das igrejices. Amores e desamores de estimação todos os temos. E temos direito a eles.
Mas há aí que limar arestas, Geo.

Ou bem que concedes sem reservas o direito à opção e à expressão e não dás com uma e tiras com outra cedendo totalmente e condenando em absoluto, ou deves ir até ao fim e assumes frontalmente que sim: que pões em causa a religião das pessoas e o direito a professá-la.
Porque não? Não o fundamentas tu civicamente neste blog? Não é um direito teu rejeitá-la?

Não é é possível aceitar a religião anónima e não a religião de um ministro da igreja.
Não é é possível aceitar a religião doméstica e condenar a religião pública ou publicitada.
Não é é possível aceitar a religião pessoal mas não aceitar as suas consequências no dia-a-dia.
Não é possível aceitar a religião pessoal e rejeitar a religião organizada de pessoas que a partilham.

Não é possível.
Não faz sentido.

Não tenhas receio de o admitir. Ninguém (que apareça aqui) vai chamar-te ditador por isso! Não tens também tu também direito à tua liberdade de expressão?

Ficar com um pé cá e outro lá é que é mais difícil de sustentar.




E um grande abraço ao Gil, mais um parceiro destes debates francos e infindos nos furos do Moinho.